19/07/2017

Superssexualização e banalização de fofuras


Eu ia escrever uns relatos da minha vida, mas na busca quase infinda pra achar uma imagem pro post, acabei percebendo como grande parte do que a gente costuma consumir ou simplesmente passar os olhos com total naturalidade é na verdade uma forma super agressiva e imprecisa sobre o que desejo e sexualidade são.

Desde os meus quinze comecei a ler mangás com temática gay/bi, aos 16 eu já tinha jogado Dramatical Murder e, bem, posso afirmar que já tinha lido uma quantidade considerável de lemons, doujinshis e mangás extremamente explícitos. A grande maioria sequer chegava a me despertar algum tipo de excitação. Era ok, fazia parte da história. Eu analisava a anatomia, traço, se a cena estava bem costurada ao enredo, essas coisas céticas.

Até esse momento (os meus 16 anos, digo) eu não tinha passado por muitas experiências do gênero, o que me impedia de julgar o que era crível ou não.
Sinceramente, sempre tive muita dificuldade em lidar com sexualidade como um todo. Meu amadurecimento era mais lento, e estava indo bem até (já tinha superado a suposta verdade, na época irremediável, de que "viveria sozinha por não querer transar" acreditei nisso dos 11 aos 15!).
Estava superando minhas aversões, me acostumando com a ideia de sexo e carícia serem algo natural, todas essas coisas que as pessoas normalmente já entenderam com 16 anos na cara.
Eis que comecei a namorar o Rodrigo e tudo foi por água abaixo.
Ele me forçou a pular tantas etapas do meu desenvolvimento, é triste perceber agora como me marcou e me traumatizou.
Fui forçada a lidar com coisas pras quais eu não tinha o menor preparo emocional e psicológico, com medo de decepcioná-lo (e ouvir aquele chantajão emocional malvado).
Bem, isso tudo só pra falar que apesar de não ter o melhor dos iniciamentos na coisa, eu achava que lidava super bem com o assunto, me escondendo na "naturalidade" pra ver aquela pornografia ilustrada toda sem nem ligar.

Ha ha ha. Como a gente gosta de se iludir, né?

Pois bem, hoje com 19 e uma cabecinha muito mais preparada pra lidar com o tema, seja pela vivência alheia a que tive acesso ou a minha própria, consigo ver como a enorme maioria das cenas amorosas dos mangás, jogos, fanarts e praticamente qualquer coisa que envolva um casal (geralmente homossexual) tem um exagero totalmente descabido e que acaba até estressando quem realmente consegue se colocar no lugar da personagem. Sério, tem coisa que não dá.

São cenas tão extremas, tão BAAAAM, excessivas, eu diria até famintas que chega a ser desconsertante.
Foi um custo achar uma imagem que mostrasse "o toque" de maneira que me agradasse.
Imagino que devido a produção ser quase inteiramente de autoria de gente que não experimentou as coisas que coloca no papel  as coisas acabem saindo essa gororoba de suor, baba, gemidos e poses que não chegam nem perto de serem as mais importantes ou memoráveis dos momentos a dois (ou mais).
Sério, é de doer ver como o exagero tira toda a graça dos pequenos gestos que, se retratados, seriam de tirar o folego.

Temos acesso a uma biblioteca imensa de sexo distorcido e isso é muito prejudicial! Pode assustar, iludir, banalizar e nos fazer superestimar as relações na vida real, o que nos deixa frágeis e suscetíveis a travas complicadas de serem identificadas e trabalhadas.
São tatuagens internas que caracterizam a sexualidade como algo voraz, em eterna combustão e visando apenas uma expressão de afeto superficial muito mais voltada pra satisfação física.
 É péssimo e a gente nem faz ideia!

Pois é, fica a dica pro mundo: tente se colocar no lugar do personagem quando for ler qualquer coisa que seja, mesmo em cenas que você normalmente passa batido ou se preserva de ir a fundo, é importante perceber e condenar (mesmo que mentalmente) esse tipo de representação do sexo como um todo.
É por um bem maior, o nosso bem.

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